segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

QPQS11012010

Para Athos com admiração

brasília me olha e talvez por isso evito. olhá-la. em outros momentos revela-se, na poesia de meus dedos e, dissimulado e oblíquo, eu olho. brasília nos olhos calo. sinto que vou dizer: e passo. expectador dos sentidos estimulados meus olhos vêem acompanhados de bocas. e salivo tudo que encaro. mas meu olho norte: azulejo desejo rima. meu olho sul: ministério mistério rima. e vejo com a pele e meu corpo abriga tudo aquilo que brasília repele. e abrigo brasília na minha pele: homem tolo abaporu – sem rima sem nome de rua. ser abaporu: quarta dimensão modernista. e tudo que finjo sob o sol é inclassificável: o azul é de bandeira. o amarelo é coralino. o marrom é de raimundo. o rosa é do rosa mesmo e o resto é clarice nua interrompendo a respiração. meus olhos maiores e vejo com o nariz: sinto o perfume de brasíliaclarice no meu corpo e meu corpo pensa estar voando – assim asa e alado. eu amo brasília e me despeço da moça do telemarketing, da moça no caixa de caixa de supermercado. moça da superquadra aonde esconde o seu traçado? e corro antes que eu me deite na passarela e seja assim um homem passado - ainda por cima. o perfume de brasília me deixa alumbrado e cometo um pecado: beijo uma carta de papel passado, um bilhete, lembrança de enamorado, uma carta marítima – memórias póstumas de um mar passado. mar alado a limpo – mar, sem ar, mar sem sal, embora o sal da terra: salgado.

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