sábado, 17 de julho de 2010

CIRCO ETC E TAL - PRONTO PONTO E PONTO FINAL (XII)

Descendo a cortina do espetáculo maior da Terra a casa do homem é. A terra a única capital possível desde que o poteiro pintou o grito. O grito do poteiro tem um griô. O grito do poteiro têm sinos sinas e grilos – cabeças singelas de homens lançando pernas de capoeira levantando poeira e alimentando poesia modernista. As moças lavando escadarias – pra quê tanta igreja meu deus? Moças lavando os pés nos espelhos d’água. Moças d’olhos d’água. Moças em esferas de espera esperando o vôo esperando a voz esperando o trem (de pouso) da foz da outra moça que anuncia o fim de todas as esperas dos que esperam em suas atmosferas deitadas no banco de espera sua estada no conto invisível da atmosfera. Chapeuzinho verde no cabelo: lobo-guará, logos, lobo blogs loboblog globoboloblog: blogosfera. moça do cata-vento de flores nas pernas: que atmosfera te espera do outro lado da estação? E moças eu vi. e no circo o dia foi contado, cortado por discursos e cidades e sorrisos e palma. Meninas eu vi: e brasília é este conjunto de cidades tão exatas que se confundem com o plano e o plano que parece estar no centro é sempre o que está fora. O plano é sempre o agora. Brasília: moça com brinco de pérolas...

CIRCO TRAPALHÃO - LINHA MARGEM TRAVESSÃO - XI

No circo fez-se noite. Verso pobre, mais pobre é o homem ao lado. no circo a quadra da noite é sempre lenta. Noite longa. vida longa à grei. Eu vi. eu vi a procissão na entrequadra. Era a cruz da fundação. Da fundação da fundação da fundação. E da cruz brotaram palavras dos jasmins das palavras jamais. Tanto faz. Brasília é a única. Capital fundada no pecado do peso de ser. A ruína dos homens é a poesia para a posteridade. A ruína dos nomes é a crônica para o dia. A ruína para as ruas é a superquadra – alada, bela, inefável. E a Isadora-gradiva grávida, gente, de oito meses, gente, precisa urgente de ajuda financeira... ah! a morada da chuva são os olhos da moça. Há esta moça deitada no tempo de espera o que espera esta moça vendendo sua condição de mãe? Medéia de hoje medéia de amanhã no asilo. Medéia amando na velhice no coreto da esplanada perto da fonte. Candangos axilados? O lar dos velhinhos é o amor. próprio.

O CIRCO LOTADO CIDADE SERTÃO - X

No centro do circo tem uma torre e no centro da torre tem uma moça e no centro da moça um sorriso de moça da torre – brasilismália! Moça da torre vendendo catedral vendendo santo vendendo foto no jornal. moça bonita dos olhos de gueixa vendendo a deixa para o meu jornal. Moça do mote de mecha dourada de carnaval. moça do tempo anunciando a seca anunciando a senha anunciando canetas vermelhas canetas azuis canetas verdade amarelas lilás. Canetas-de-ipê. Ipês de pintar. Poteiros em barro esculpe com tinta um ipê pra mim? um ipê de sem fim um ipê de alado um ipê de sal um ipê de assado. Um ipê nacional um ipê estrutural onde eu possa compor meu rocks rural. Ipê com ares de rock nacional. e mais. a moça da torre, moça alice lispector do jogo de xadrez, moça com brinco de pétalas. musa dos cegos, dos objetos imóveis, objetos em movimento. Em brasília tudo é apenas: a luz os dias de vento, as pipas de plástico sendo azul e percebo pátinas naquele quarto de pintar, naquele espelho de passar, naquelas ruas de andar, naquelas tintas de incorporar... acho que não vou escrever nada. hoje.

CIRCO DE MOSCOU - PONTO DE EXCLAMAÇÃO - IX

No circo do tempo: os leões cruzam espadas e cruzam alices e cartas de baralho. Alice lispector inventa um mundo onde dormem os homens e amanhecem as crianças. Do lado de fora os livros com gravuras divertem os pipoqueiros, os churros-do-chaves, os algodões de nuvens nuvens-doces e tantas coisas meu deus. E dos fogos das piras, lares e penates, dos círculos sagrados de aplaudir. e vejo focos de incêndio no focos de incêndio e vejo ancestrais e das fumaças de maio morando o sertão labaredas de junho roçando o sertão promessa de vida no meio coração. Sertão não: cerrado então. E quasares dançam as roupas... ideia fixa esta de roubar do jornal a palavra exata, a moça bonita a palavra esquecida no embrulho do pão, no papel envolto da pauta da folha em pauta e a dança da louca do 666 a moça que escreve cartas para ir e voltar, a moça que escreve crônicas de se fundar e hoje, no circo, é o dia dos homens. Em brasília todo dia é dia do homem. E me metamorfomo em lobisomem. Meio homem, matéria de crônica, homem de um dia astronauta de mármore no violão da rede do museu da casa de lúcio. Eu o astronauta do mármore do chão. meio lobo, mas de um lobo guará: lobisomem-guará. Assim assim: leve, meio lerdo, meio lobo, meio viralata de beira da rodoviária. Condição precária de contista daquilo que passa que já passou e passará: noiva do fim, noiva de mim, noiva do coito, noiva do lobo, noiva da semente, noiva da voz, noiva: amor, maior, mulher, algoz. Retrós?

CIRCO DA RUA DO CATA-VENTO - VIII

No circo nosso de cada dia trabalha-se seis oito dez doze n horas. Em brasília o rádio ainda fala? No picadeiro o derradeiro espetáculo: gradiva lispector come fogo e monta o cordel do fogo encantado. os novos candangos são os novos migrantes: quando se é retirante em brasília: é pra lá que se vai. É pra lá que eu vou – grito, invertido, para minha mãe. É hora em brasília de tomar bãe. Mas a perda do lago, a perda da janela do lago: os seres falantes e seu cães calados, os seres rastejantes e seu cigarros tragados, os seres itinerantes e seus cachaços amargos... perdi a janela e com ela o lago e com ele o mundo. mas outra janela eu vejo: árvores. Aves. A pomba-rola do mágico canta na minha janela e para ela eu canto esta odisséia do homem só. A perda do lago? o rasto do lago, as árvores da janela o silêncio cultivado – espaços de silenciar – daí nasce o discurso... os focos de silêncio os ventos cantantes. O vento canta? O vento nos varais e roubo frases do varal braziliense: ah, e o sorriso da moça-ismália e sísmica: moça bonita do meu coração onde foges se encontro nos teus passos as paredes de minha última canção? Meninas eu vi: sara-loirinha, suzi-coroa, tamy-japonesa, paola-goianinha, luciana águas claras, marcinha sergipana, jeny novinha... Jeny! aqui? et nunc? É pra lá que eu voo.

CIRCO DA RÚSSIA DO TEMPO - VII

O circo é assim: a pessoa chega, olha e senta. E lá vem o palhaço anunciando a canção. E uma legião urbana sob a lona espera a esfera com os gatos alados. Como é belo ver o povo banhando o gramado, como é belo ver o peso do mundo no calado que divide uma cena da outra. quando perguntam onde nasci, respondo: brasília nasceu em mim e os filhos de brasília são pensados pelas minha mãe-medéia. Mãe cujo pai espiritual é Sêneca. Um teatro onde a fala é cênica e a cena é reflexão. Tudo é tão pesado nestes dias tão estranhos: de fumaça e estanho. Eu vi a manequim no gramado depois de passear pela música de morar. Os filhos de brasília nasceram de um aborto elétrico e tomaram corça-cola na mamadeira e ficaram sendo: geração urbana. E pais e filhos são trabalhadores autônomos, músicos autômatos, notícias tirada do jornal. E avisto do monte pascoal os novos candangos nas tintas poteiras pintando paisagens pintando poeiras. Como nesse mundo um pincel tão ingênuo ser tão filosófico. Brasília é assim: quem nasce aqui já nasce matéria de poesia e a mãe que tem um dali na sala é tão maternal é uma mãe de natal que não queima o mundo nem vinga de nada nem faz macumba de amor. mãe é mãe e só. meninas eu vi: a dona-esmeralda, astróloga-márcia, dona-samira, lucia-ababa, cabocla-maria, com-o-poder-de-nayra, ana-a-cartomante,

sexta-feira, 16 de julho de 2010

CIRCO MUITO (VI)

ali na curva do alto a lua da asa norte tão cheia de si. musica e anima. musa e solar. muda e sonora. em brasília cada hora é uma hora. e mais. a moça ali é gradiva. toda moça é mais. tão pequenina tão bailarina. andaluza: tem luz no corpo porque seu corpo é mágica. mas a mágica deixa o picadeiro como o sinal deixa o verde, como os sinais deixam a chuva como os signos deixam o destino: em brasília tudo é destino: nordestino, centroestino, meninino, olhosorrino. e só. move-se como um lagarto o homem ao meu lado. é o homem do globo da morte. todo dia ele entra neste globo e vai trabalhar. quando moto: acelera; quando dedo apontado: desliza pelos ferros transparentes que nasceram com as árvores do cerrado. quando tudo é discurso eu me sinto calado. em brasília tudo é desenho: o museu, o adesivo de azulejo, o risco do desejo. tudo é asa: a flor do cerrado, a carroça do ditado, a carta de despejo. tudo é e só. o resto é aquela vermelhidão é a anti-ave nascendo das lavas do vulcão. é o prédio terceiro nascendo do magma da estação. larvas de. é o mundo morrendo e indo para uma única direção: brasília. onde está minha mente? vulcão. vermelhidão. pompéia é tão ambígua... desambigua ação!

ERA UMA VEZ OUTRO CIRCO CINCO

em brasília eu sou o mágico e as moças bonitas se deixam ser. cortadas ao meio. as moças bonitas se deixam enfiar espadas. as moças bonitas se movem pelo picadeiro da esplanada e levitam sem cordas e flutuam sem truques e lavoram sem roupas, pois as roupas estão ocupadas nos varais nos sinos das catedrais nas penas dos sermões dos cardeais. e lançam o pássaro antidiluviano que vira lençol que vira bandeira nacional que vira truque ou anseio de revelar. mas a maior mágica de brasília é seu desaparecimento. quando de olhos fechados, dédalus e complexus, este labirinto desaparece e quando de olhos abertos: meu deus, que escuridão. e quando sim é não. e quando não – ponto. pontos de ônibus pontos de conexão pontos que indicam a interrogação. em brasília tudo é mapa. basta seguir uma pista e encontrar na coxia do mundo a maior mágica. tudo é realidade. eu realismo e me movo como um lagarto e o lagarto se move como um ovo e o ovo lança voo no voo do mundo. olhe, pompéia é tão ambígua!

ERA UMA VEZ NO CIRCO IV

o circo chega todos os dias e nos dá lições de ficar. no picadeiro central da maior avenida do mundo o corcel de fogo galopa sem limite pelo deslimite de mim. o cristo morto, o imperador morto, o menino olhando lá da arquibancada tudo que é espetáculo tudo que é esplanada. mais nada e só. os primeiros começos de brasília é todos os dias. a rodoviária é o centro nervoso e o terno retorno. todo dia tudo tão igual e tudo tão longe. seguir. a liberdade aqui é tudo que é calculado. o vento é a única prisão. o resto é esquina é espaço é visão e não. este silêncio visual. ame-o ou ame-o ou ame-o ou mate-o. o mato tão perto do chão. ah!, e o asfalto é o mar: o sol na tarde de sexta com os carros apressados. tudo que escrevo é antepassado. o aluguel tão caro no plano. o plano tão caro para tantos e tânatos espera a próxima vítima: doces ou travessia! e todo dia cruzar o eixo de si mesmo e ser si mesmo nas curvas do barroco. tinha um barraco na tesoura: superpassos. e os tesoureiros e os engarrafados descem dos carros e discutem uma solução para o preço do passo o preço do espaço o preço do pão. e onde estivessem era a imensidão. em brasília: eu só invento a vista. atenas é tão toda.

ERA UMA VEZ O CIRCO III

o palco é centro. e o centro é o mundo. o mundo é grande. o resto é todo dia tudo sempre tão igual. todo aqui em brasília é carnaval. um carnaval de gente e alma. quando carne é povo, quando alma enredo. enredado caminho pelo trieiro e converso formigas. gregário percorro a arquibancada distribuindo segredos e charadas. esfinges, ariesfinx arqueópterix . tudo que escrevo é arqueológico. todos os dias percorro estes vãos e alargo meu campo de visão. bendito é o suco, brasília-me-quer brasília-não-me-quer. sei que brasília me faz bem e pressinto os últimos silêncios de uma arquibancada alada. o povo está chegando é a hora dos ruminantes anunciando os cantos de galos manobras de skatistas os cantos de circos itinerantes e mamulejos de flautistas. o circo quando chega em brasília se arma. abre-se: luz-poeira. na esteira do espetáculo traço estes rastos – rostos – e abarco com os braços o mundo que me faço. em brasília embarco. bem quer me-brasília mal me quer bem-me-quis: disfarço. no pensamento da cidade em mim me lanço acompanhado pelas rosas migradoras e percorro a cidade que o vento conheceu conhece e reconhecerá. a grécia é tão movente!

ERA UMA VEZ O CIRCO II

este circo de alfenins... uma placa indica a corda bamba. dois homens diante das torres gêmeas lançam a corda na única árvore do tempo. tão torta e tão fingida de morta que vige no areial – terreal. é vento? venturis e desventuras assim é: brasília – tudo que é poeira se lança e enche os olhos da gente e dá uma vontade de chorar uma vontade de chorar e só. aqui no circo é tudo assim: o cachorro vestido de elefante, o cavalo alado vestido de guarda atravessando os olhos do menino de óculos. gradiva esplanada na grama. gradiva lispector. tudo é tão invisível que quando estou na quadra sou todo-ouvidos. orelha de mim: na corda bamba o salto importa mais. o silêncio é tão exaustivo. mas as moças olham mais e ardem. moça deitada na grama da esplanada. tudo é tão plano que cada acaso é apenas poesia. o resto. tudo. é tudo verdade? imagem de mim: invade... e lá embaixo é tudo tão perto. e as asas dos anjos da guarda protegem os meninos andando na corda. os palhaços, aqueles dois no espaço, são palhaços tão calados. esperam godot pelo espaço. é tão sempre ser palhaço. a vida é uma palhaçada. em brasília: gratidão de flores eternas respiradas. tróia é tão nominal.

ERA UMA VEZ O CIRCO I

aqui, neste vermelho de chão tudo é mundo. memória de passos de pessoas de rosas migradoras. somos saltimbancos nestes bancos de dados? de braços dados pelos bancos me sento para estar conectado com uma pessoa da cidade. ao dará. afinal um lance de dados não abolirá o ocaso. um lance de teclas não abolirá o acaso e um lance qualquer não abolirá o azar. seja palavra, seja picadeiro, estamos conectados: era uma vez o circo no centro do palácio. eu o homem era o palhaço e pedi sorrindo um abraço. a menina não era uma rima e não ria. era a moça. a moça do paço. eu o homem solto no espaço soltando pipas no paço no vento de abril vento de junho vento e passo. eu era o circo em mim e brasília a minha lona-balão. mas eu sendo homem era mais chão e tudo era um vermelho maior: a fundação, a inscrição e pixação. fixação. o resto é assinatura. tudo foge no redemunho: as rosas, os roxos do ipê, os róseos manheceres tão épicos e tão visigóticos. eu onde? as ruas são assim: partes de um todo matematicamente calmo. o mundo é tão grande. lá vai o redemunho esplendido no chão. os varais pintam as palavras e minha poesia é crônica. crônica de um dia maior: maior é a minha poeira correndo pelas veias de meu coração. em brasília: opaca canção do vento. ítaca é tão silenciosa

domingo, 14 de fevereiro de 2010

CLSW 31012010

A Patrícia Cabral - asa de morar

as siglas levam ao lugar certo. minhas pernas não. brasília: sigla-me. tenho apenas duas mãos dois marrons e todo tempo do mundo. eu ando pelo mundo espiando versos. há tantas vidas ocultas em cada espaço em branco, entre uma letra e outra, entre um verde e um vermelho: o azul do olho de brasília. brasília mameluca: taturana, maluca, bandeira. há tanta complexidade nestes complexos habitacionais onde sopram os ventos sudoestes e tanta mobilidade constante onde sopram os ventos nornoroestes. ninguém sabe o que pensa estar sentindo pessoa pela rua. brasília sabe e sente muito. eu sinto muito e sei. o que pensam sentir estas superpessoas? os anjos de uma Lisboa revisitada não invejam pessoa em brasília. ao contrário, enfatizam o mistério e a procura da conexão. sabe: todo pecado é corpo. todo perdão é capital. do éden tirar a planta, de babel tirar o plano de sodoma e gomorra salivar mulher, crianças e flautas. e o abaporu prossegue a marcha apressada dos candangos, das marias, dos marcovaldos e marcoservos... um porto amou as índias e apedrejou índios. outro porto escravizou: geobelo. veio um navio no deserto e criou candangos: zé e mais: posto que josés e agoras. mundo raimundos e raios de rimas; carlos era carlos mesmo e só. e carlitos reinventando em cada rua sem nome em cada rosto sem nome em cada corpo com fome. e só. e vãos. depressa pelas ladeiras ruas eixos, nos bondes nos autos metrôs. vãos. depressa: os homens anoitecidos do lado de dentro de onde se veio para fora.

CLSM30012010

A Carlos Drummond – Itabira Rio Mond...

sei, os cobogós promovem o cansaço habitual das retinas. instante, vejo os livros imaginários das estantes nacionais e não leio nunca mais, pois os concretos e os seios de brasília revelam muito mais. se os concretos refletem essa carga material das coisas e configuram-se como possíveis elementos não entrevistos pelas retinas fatigadas, por sua vez, renovam-se, despertam uma magia translúcida possível a mulher. ora bem, onde não há templo porque maior a moradia, onde não há significado porque maior a perda de deus – lá reside a estranha. lá é aqui e pergunta: que significa esta cidade? eu, abaporu e gauche, olho o relógio, olho o espelho dágua, disfarço e olho os olhos da moça e sigo... se os seios refletem o belo da moça o beijo da moça ainda jovem passando por cima de tudo e o gozo da moça passando por cima de mundo... ah melhor é morar no belo, no corpo da moça, corpo de morar e morrer. quer dizer, o espaço interdito do real de brasília é revisto e os detalhes são transfigurados: as mercadorias expostas nas galerias trazem consigo signos de outras coisas, os bibelos expulsos da feira levam consigo sonhos de outras pessoas – e barrigas cheias abaporuzinhos para alimentar deixam a antena do cerrado. o belo é a bela coxa da moça... o futuro corre, como correm os carros e os espermatozóides. o fruto, bendito, é geneticamente planejado: brasília clariceana tem sangue de barata e o abaporu tem sangue de urubu.

SOS22012010

A Cassiano Nunes e Maju

articulo de minha bicicleta cassiana elementos simbólicos e materiais de construção. materiais de expressão. Inefável, a cidade-mulher influencia o comportamento humano, o deslocamento urbano, o rompimento humano. Eu quero a minha calói nestes dias tão iguais, deixai que os metais caiam dos céus e os raios relâmpagos e trovões nasçam do asfalto como nasceram as rosas capitais, as mônicas em seus camelos eduardos e seus berimbais. matéria de poesia é o louco conversando sozinho com uma multidão de andantes compenetrados carregando seus quilos pelos olhos dágua. e quando passo com minha arnha perto do louco só. só para ouvir suas revelações entoa um apocalipse dos sonhos falsos de deus. mas eu, normal, não conto nada. e saúdo, domingo fechado, jkristo na sua monark. e brasília acha graça, passa e sorri e deitamos, colcha de retalhos, transformando os fatos cotidianos em passeios e planos. ah, são estes nervos cassianos pedalando pelo chãoceano. artefatos materiais em versos mais: ao abaporu a missão. reconfigurar significados opacos e deixar transparentes tudo que cabe em uma tela, tudo que cabe, braque, em um azulejo-de-tela. e o processo produtivo: dos gatos sem telhado, dos cães com donos, dos pássaros azuis da minha janela. ah os gatos cinematográficos, meninas, eu vi: roxo azul amarelo. e chega um dia um gato mia e o cachorro entediado nunca diz bom dia. chega o dia a janela canta. os saltimbancos cantam e levantam e cantam janelas de todo dia: olha o gás...

BBSS21012010

A Camile Claudel

brasília tem um jeito assim de amar demais, de cozinhar a mais e fazer amor demais. escultural: mãos de morar. e mistura pimenta com rapadura, pizza com tapioca e garapa com pastel. brasília dança, há tempos, demasiada e compassiva, ela: zaratustra o novo milênio e faz propostas indecentes. dançamos nos fixos das catedrais eu meus pais e os animais. brindamos as girafas de outros carnavais, os hipopótamos de nossos avôs espirituais. somos todos canibais... brasília, só ela, não acha nada demais. e persigo caliandras voando soltas livres e sonsas pelas marginais. eu olho, eu paro, eu rezo um tango argentino. explico a vida para brasília que nunca explica nada. espio os homens: somos todos uns calangos. avoados avoados. respiro as mulheres: zebrinhas. belas belas. espio os anjos, estes arquitetos do nada, nas sacadas comerciais. eles elos. então, neste sol a pino, neste portocalvo, nesta poça que reflete roxa o belo da sicupira departe: prédio em parte e risco de piloti. essa total explicação da vida se refaz numa poça de janeiro. brasília janeira. acho: tudo é pretexto para um dia em construção. tudo é pretérito de tão perfeição. a casa da árvore nega, nexo singular do espelho deitado, porque tudo se revelou perante a pesquisa ardente do homem que caminha pelo eixão saudando carros velozes, vácuos coralinos engarrafamentos exatos. sabe brasília, esta época traduz uma convergência entre objetividade e subjetividade e uma negação otimista de tudo aquilo que é. humano urbano mundano – dormir.

SBSB20012010

Ao Maestro Jorge Antunes (Magister Musicae)
malazarte este corpo não se parte. reside no plano mitológico: cobra com asas é brasília chã. cabe ao carteiro, que se sabe nem deus, nem herói, alcançar um possível encantamento da palavra por meio da andança poética. estranha ordem do mundo, estranha matéria de manhã. entregar a carta ao maestro. batuta que enluta os autos e os adautos de dom bosco. nesta manhã que se tece em cantos de celulares – que se ligam a outros que acordam outros que fazem acordos e cordas musicais. há um aparelho que emana voz e diante dos enigmas postos por este mundo, apreende, nos discursos e na rampa, os sentidos de ser gauche. corpo-baixo de abaporu. planta-altiplana de. e a osquestra orquestra. completa e sinestésica ensaia, nas arraias de carnaval, a voz do povo na rua, a ópera do povo no conic a obra do giramundo gritando fundo no peito de um traidor. judas e o vilão aires presos no carnaval. e tudo é superfesta. mas de uma festa chã, uma festa rompendo carnívora e antropófaga, rompendo sambatranses, sambrasílias, sombras e ilhas de cevada mineral. brasília superfantasticamente... e o galinho da madrugada já vem tecendo a manhã e lança seus saltos ao bloco dos raprigueiros moços trigueiros comendo tremoços apolíneos. e lança. lança-perfume e batuques aos meninos da ceilândia, brinquedos de nicolândia, e joga pedra nos presos da disneylândia. eu vou é botar meu azulejo na quadra, meu bloco rua, meu cobogó na lua... e permita baco que eu morra de samba de cachaça e de folia no chão de mamãe babagiliá.

BSBS12012010

A Gylberto Freyre, estas raízes de brasília

meu corpo é o corpo da cidade. sou mesmo um abaporu exilado e bêbedo. onço pintado que migrou para reinventar suvacos de asa. um sem-raça, de etnia satélite e desterrada. somos eu a e cidade uns mocambos. e diversas casas, tão grandes, alheias, não espiam nada. números elevadores levam, elevam, rebaixam e aterrissam. chão: meus olhos marrons estranhos vem acompanhados da boca. meus marrons se fixam nas mãos e enxergo o cotidiano sete vezes sete facetado. e um colóquio em câmara têxtil se enreda aonde as esquinas não tem curvas. as rosas, no mês de junho, matéria de um bilhete para o velho braga. ali, onde a mulher não tem sorte e perdeu seu amor, tem mais dor que esfera, tem mais samba que concreto, tem mais guerra que beirute. todos os dias sinto muito e como em roma. saudade de brasília e leio: baudelaire, leio o corpo da mulher, a brisa cabralina que enjoa do paranoá – é. tudo metáfora naquelas velas concretas: feliz aniversário clandestino. e a matéria de uma realidade sentimental renovada pelo concreto deságua no azulejo, na pedra portuguesa com rima e poemas nas pegadas w3. essa escrita que se tece enredando fios e fragmentos do cotidiano, cansa retinas, ofusca narinas, espera ônibus que nunca vem nunca vem nunca vem que já passou. estas retinas, tão pequeninas, apesar de tão fatigadas pelas luzes modernas, percebem que a força divina das curvas barrocas, das luas loucas, das nuas roucas jáévem jáévem jávém – demorot. ay, neste corpo tão futuro e tão estranho: resíduo.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

QPQS11012010

Para Athos com admiração

brasília me olha e talvez por isso evito. olhá-la. em outros momentos revela-se, na poesia de meus dedos e, dissimulado e oblíquo, eu olho. brasília nos olhos calo. sinto que vou dizer: e passo. expectador dos sentidos estimulados meus olhos vêem acompanhados de bocas. e salivo tudo que encaro. mas meu olho norte: azulejo desejo rima. meu olho sul: ministério mistério rima. e vejo com a pele e meu corpo abriga tudo aquilo que brasília repele. e abrigo brasília na minha pele: homem tolo abaporu – sem rima sem nome de rua. ser abaporu: quarta dimensão modernista. e tudo que finjo sob o sol é inclassificável: o azul é de bandeira. o amarelo é coralino. o marrom é de raimundo. o rosa é do rosa mesmo e o resto é clarice nua interrompendo a respiração. meus olhos maiores e vejo com o nariz: sinto o perfume de brasíliaclarice no meu corpo e meu corpo pensa estar voando – assim asa e alado. eu amo brasília e me despeço da moça do telemarketing, da moça no caixa de caixa de supermercado. moça da superquadra aonde esconde o seu traçado? e corro antes que eu me deite na passarela e seja assim um homem passado - ainda por cima. o perfume de brasília me deixa alumbrado e cometo um pecado: beijo uma carta de papel passado, um bilhete, lembrança de enamorado, uma carta marítima – memórias póstumas de um mar passado. mar alado a limpo – mar, sem ar, mar sem sal, embora o sal da terra: salgado.

PQPN10012010

A Le Corbusier

as nuvens espelham o peso do peso do existência (que não pesa mais que as mãos de uma criança) sobre meus ombros. planto a poesia com meus olhos brasiliae pisando exotismos. o olhar marcovaldo, ama ou sorri, detesta desata e sente vontade de morrer diante dos acontecimentos, traduz eventos que não perguntam nada; mas perguntava meu coração numeroso sobre os sentimentos do mundo: e, abaporu, roubo versos dos homens anoitecidos do mundo - dumond. o enigma dos olhos resistem aos desafios de um espetáculo urbano e opressor, humano e divertido, uno e outro. e um sentimento do mundo sensível é reconhecido quando vejo balões carregando um padre, algodão doce carregado pelo moço sem mão, cataventos cortando cisco da multidão. o mundo multiuso olha para si mesmo e objetiva um saber acerca das coisas. eu, o abaporu espiando. entrevejo os fragmentos do ser despedaçado por seus desejos e medos, ad-miro e vejo. os mistérios da existência são apenas o chão. e tudo é um apenas. e o que liga os seres no teathro mundi é ver pensar estar sentindo: há tanto tempo não atendia a um orelhão. telefone, moça bonita dos dedos de mel, da cidade do jorro de mel, eu vou estar esperando godot. entanto movimenta-se como peça da engrenagem que move a máquina do mundo. mundo mundo mundo. se eu me chamasse eu chamaria todo mundo. comigo sigo. calado: sigo o mundo.

SQNS02012010

A Lucio Costa

meus olhos e-motivos tem. as retinas fatigadas do segundo deitado na faixa. os carros não buzinaram. os meninos não cuspiram. os ônibus não xingaram. meninas, eu vi. grafitos nas nuvens: eles desenhavam tudo que era brasília. eram a quarta imitação. e tudo era um palco porque o mundo era redondo, mas o olho era emquadrado. o mundo enquadrado, sem anjos e sem pedestres, apressados. tudo parado, exceto o vento, exceto o tempo, exceto o passado. e tudo apenas porque brasília é assim: assim e assado. da nuvem. mas havia uma necessidade andarilha e segui os gatos desenhados com os grafitos nas nuvens. urb est latim pix: as palavras pixadas indicavam a direção. e segui os trieiros caeiros da população. trilhos certeiros fazedores de caminhos sem direção. o corte na terra. o corte na carne. o corte na côrte. a côrte com o corte nunca mais carne. foi no tempo do rei. eu sou o bobo. e uso a vontade de falar para calar tudo aquilo que pressinto nos vazios entre azuis. valas entre azulejos, ventos entre cordas, vácuo entre choques, caos entre cães vagabundos. eu o bobo encontro um mendigo. tem algo de chaplin, tem algo de sancho, tem algo do circo jgarcia. ele disse meu nome e disse todos os dias eu leio as nuvens, leio as mãos, leio uma passante. e brincamos de espetáculo. brasília um picadeiro, eu o circo de um homem só: o abaporu. disse: eita homem besta meu deus!

SQNN01012010

A João Cabral

eu sou o abaporu. sujeitinho esquisito cruzando a faixa para visitar a catedral. eu queria era falar com joão do santo cristo, o josé-de-agora. mas os olhos da alma de brasília revelam uma janela aberta quando saio da rodoviária: meu deus que cidade é esta? e meu olhar caminhante procura a poesia concreta, uma poesia de uma cidadezinha qualquer, porque meus olhos são de uma cidadezinha qualquer. passo por uma faixa. uma rua tumultuada das dezenove horas. lá nasceu a rosa do povo, a flor do cerrado, o antipecado, o verso calado. nesta cidade de mais de quatro milhões de habitantes eu me pergunto como. andar, sentir, olhar. estas avenidas, de aparência neutra, de impressão fria do frio da imensidão – imensidões de um céu maior que nem sei, um sol maior que nem sol, uma avenida com a sombra imensa das torres gêmeas. frio quem? meus olhos teimam e pecadores que são procuram a palavra perfeita para dizer tudo que meu coração cala, tudo aquilo que meu corpo exala. menino e andante, sozinho na multidão, meu olho olha o meu coração e o meu coração dispara e atravessa a faixa de mais de quatro mil listras. listas de passos, nos espaços onde não são listas, passos aonde as pessoas não tem nome. mas no meio da faixa eu paro e meu coração dispara e, por um momento, a cidade inteira para. repara: porque meu corpo meus olhos meu coração deitou na faixa atrapalhando o tráfego, rompendo a multidão.