terça-feira, 7 de outubro de 2008

BRASÍLIAS INVISÍVEIS XIX

Nesta cidade as relações são acometidas por uma claridade insuportável. A luz adentra, com suas marcas e formas, os escombros dos sonhos com força devastadora... As sombras dos andaimes, os gritos da solda e o concreto escultural apocalipsam torres e passo. Daí o mau hábito de conversar com cachorros, fugir do elevador que carrega pessoas, disfarçar na caixinha do correio o tempo de partida do vizinho do lado. O apego à vida habitual transforma-se em apego à solidão compartilhada e todas as pessoas se amam no curto espaço de um encontro no estacionamento, no milimétrico abrir-fechar da porta do metrô, no ponto de observação do pôr-do-sol, no motel da candangolândia com muito amor. E quando toda raça humana fracassa, Brasília se inaugura todas as manhãs. Anuncia azulejos com pombas azuis de imensidão, cercas vivas de verde desenhado e reguado com águas de chuvas novas, paredes inteiras de canções de ninar e vidros transparentes dentro da noite veloz que anuncia a escuridão. Onde todos dormem, entre corredores gigantes e tesourinhas girantes, repousa a atmosfera das metamorfose. Eu olho da janela e sinto esse ar da noite fria... e tudo está em paz ás ás ás...

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