quinta-feira, 9 de outubro de 2008

BRASÍLIAS INVISÍVEIS XXV

Os traços com que Brasília me fala, revelam um grande livro. Suas tesouras redemunham uma infinidade de símbolos que fazem revelações apocalípticas. Em Brasília eu vi um corpo feminino se retorcer no ar, voar em vão e virar cortina de chuva sobre o parque da cidade. E vi sete prédios iguais tombados pela força do anti-tempo. E canto porque o instante rexiste: e o fogo nos eixos tremulará no ar de sal e guias. Sua concretude propiciará aos meus olhos uma força sensorial e aérea. Brinco na chuva no domingo do mundo fechado e danço vivaldiano com cada marca de faixa, com cada gato fugido, com todas as lesmas do jardim das delícias rodando em gramofones que tocam abre-asas. As estações de Brasílias são marcadas pelas cores das flores no alto das árvores. Seu corpo feminino é espaço, o deslimite da materialidade de tudo aquilo que se dissolve em gozo... não sei se paraíso perdido, não sei se inferno ou paço; não sei purgo ou se me passo. Mas certamente seu corpo-paisagem é um milagre moreno da multiplicação. Brasília é uma aparição. Quero morrer nestas vias, quero ser parte de suas vindas, de seus milagres. E quando o clarão róseo no céu matar minha memória e corromper para sempre tudo aquilo que escrevo e escrevo porque sou escravo do escrito, ouvirei os bandolins e violões dos últimos dias soprando o choro dos desesperados. Asas ritmadas, sangue eterno de Santa Cecília Meireles e a canção é mundo – mais nada. E quando ressuscitar, quero ressuscitar em Brasília para que meu eterno retorno se dê numa faixa de pedestres, num azulejo com pomba branca, na parede pastilhada do labirinto reto e inexato.

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