terça-feira, 7 de outubro de 2008

BRASÍLIAS INVISÍVEIS XXI

Foi em Brasília. Eu passeava na w3 no meio da meia-noite. Bicos de seios, pernas de meias, cinturas de cintas ligas batiam na estrelas inumeráveis. Havia a promessa do lago. Os últimos ônibus transitavam lentos pegando os últimos passageiros da vida. Ônibus chamados desejo. Insone eu rezava para o Santo Padroeiro dos atravessadores e atravessei o eixão correndo e cantando legiões. Havia a promessa do lago. Minha solidão se multipicava nas linhas das quadras. Nas transparências dos blocos que anunciavam famílias inteiras na mais completa solidão. Fazia um calor e um vento de Goiás soprava no vento. A vida para mim era chegar no lago. E como não encontrava ninguém a não ser o doce vento goiano sentia em mim pulsar a fascinação dos blocos compridos, os autos sinceros acelerando para lugar algum, a voluptuosidade do calor, as moças bonitas do passado e mil pessoas diferentes que chagaram no lago antes de mim. Meu coração bateu planejado. Seguia o mapa da mão de Drummond, segurava uma página surrada do caderno cidades do correio Z. Meu olhos marejaram: sal, algas, seixos. A via acabou. O lago batia em meu peito. As árvores últimas. A cidade sou eu. Eu sou o ser capital. A cidade sou eu. Eu sou a crônica da cidade. Sou eu a cidade meu amor é você.

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