quinta-feira, 9 de outubro de 2008

XXIII

Brasília é uma surpresa. Na caminhada pela grama da ponta da asa, na página de jornal, nas andanças pela estação cinematográfica da 108, ao som das chuvas-de-outubro, das cigarras-de-primavera e dos bandolins-de-atmosfera: the cantos. Depois o metrô. Metrô de alumbramento diante de uma moça que lia perto do coração selvagem. E meu coração pequenino percorrendo Macabeu as ruas da Ceilândia... depois voltar e deixar que meu coração volte para o plano olhando planos, fazendo planos, sonhando planos literários - Dédalo: il miglior fabro. Surpresas proustianas na Viçosa. No fim de noite os pastéis lembram cantos de São Paulo e o caldo-de-cana lembram a infância cerradeira. Me abro em palimpsestos e recordo todas as vezes que cruzei a cidade em busca de saltos – o Itiquira é sempre maior! Na volta, a W3 é um colo norte e me canta cantigas de ninar... e Brasília me lê, no inusitado do presente, o presente da leitura. Brasília é cronicamente fecunda. Candangoiano, no meu ser-quase-nada, converso com ela, retino seus desenhos diários de capital de todos os pecados. Vejo nas linhas de minhas mãos os riscos da catedral. Vejo na janela de vidro as linhas drummondianas. Brasília é uma crônica planejada no curto espaço de amar.

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