quarta-feira, 8 de outubro de 2008

BRASÍLIAS INVISÍVEIS XXII

Brasília só tem um segredo: o medo de que todos os candangos partam, levando na bagagem a verdade e a vida. No plano, eles partiriam. Fora do plano elas pariram. Mas a rodoviária é apenas ponto de chegada. Ela não tem asas, ela tem âncoras. As pessoas aprofundam mais na âncora leste. Na pobreza, na fome, no tráfego e no tráfico elas encenam o teatro de vampiros. Na tela imensa que se abre diante do pé direito as torres gêmeas, as bacias de mambrino, os prédios verdes duplicados nas retinas empoeiradas enfumaçadas fatigadas – tudo cartão postal. Mas os cartões hoje não se enviam mais. Imóveis, fotografias de vozes que não viajam mais. O povo transita alheio e depressa. A rodoviária tem sete vidas e reúne as sete tribos que fugiram de Akhenaton: paraítas, paraibitas, maranhitas, piauítas, pernambistas, cearistas e bahitas. O êxodo de Brasília é sempre invertido. As pessoas quando fogem, vão para cá.

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