segunda-feira, 29 de setembro de 2008

BRASÍLIA INVISÍVEIS XV

A cidade e as cigarras. Um dia choveu, outro dia fez-se sol. Dizem que elas cantam pra chamar chuva, outros dizem que para chamar sol. A cidade canta e a cidade levanta, segunda de todos os santos, segunda de todos os meses. Setembro é sempre o pior dos meses. Setembro acaba, as flores inventam os casulos se abrem. As cigarras cantam jazz no clube da esquina e a cidade lança seus homo satélites para os afazeres planetários. A cigarra-mambenbrincante joga centelhas de música ao vento e a cidade dos escritórios liga seus pcs, lap-tops, bib-bops, palm-tops e livros de pedra ponto chegada. A cigarra-Dona-Estrela inventa um batuque do centro e voa canta com o calango cantador do cerrado; ela hermeta harmonias e clarinn e ele, avoado, afirma, no solo, o som do centro da terra. A Cigarra-batalá batuca a sinfonia do lobo-guará e a cidade com seu setor de auto-escolas faz balizas, liga setas, proíbe buzinar – as placas de trânsito conversam mais. A cidade se funda, se continua e se enfutura no trabalho. Brasília é a capital do futuro. No Clube do Choro João Peçanha, Hamilton de Holanda e a Cigarra d’Esperanto choram o canto do povo de um lugar: e todo dia o sol levanta, e todo dia o povo levanta e a gente canta; toda tarde a terra cora e a gente chora porque o choro é bom. Toda noite todo mundo vê a noite: em Brasília a noite é sempre solar.

Nenhum comentário: