segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

BRASÍLIAMAR XVI

Toda cidade é aberta? Quando fujo de Brasília ela me persegue como numa cena de filme noir. Todos os dias eu assisto um capítulo dessa vontade de se fundar. A história se repete todos os dias porque fujo todos os dias de Brasília. Amo tanto Brasília que paro, olho e passo. A vida é assim: contínua e trêmula como água de lago quando recebe sopros de brisa, cantos de arcanjos, suspiros de um Deus que não sabe mais o que inventar. O efêmero: o subterrâneo, o magma, a argila. Em Brasília não tem enterro. Os mortos passeiam e trocam de covas e lançam flores no lago. Ouvi dizer que existe um cemitério de elefantes. Mas ninguém sabe. Não vamos contar. Este será o meu segredo com você. Tu e eu pelos jardins das palavras jamais. A vida é meu teatro, mas Godot chegará um dia, atrasado como sempre, e eu estarei depois. Brasília se lembrará de mim como seu mais fiel amante, como seu mais devotado Bentinho, como seu mais irascível e luciferino anjo-da-guarda. Ela cantará meus versos, achados e perdidos em um sebo. Ela estará com uma legião no gramado central. Moças bonitas de se namorar cantarão lá lá lá lá lálálálau. Ainda é cedo... E quando o sol chegar e todas as portas estiverem acesas e todos as luzes abertas ela dirá um único verso, um único nome:

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