terça-feira, 16 de dezembro de 2008

BRASÍLIAMAR XVIII (BAHIAMAR)

Quando os navios candangos aportaram na baía de todos os lagos um grito enorme rompeu do planalto fluminense. E os santos machucados, que apanharam da intolerância, ainda sobrevivem de oferendas escultórias – em Brasília falta um feriado baiano! E dos navios desceram Noé, Javé, Pelé e Zé-Prequeté. E foi uma mistura: calango com macaca, avestruz com urubu-rei caititu com caitité. Babalorixá com Nossa Senhora, Universal com Tranca-Rua, Judas com Joaquim da Silva Xavier. Não permita deus que eu morra. Permita Deus que eu morra de samba de cachaça e de folia. Brasília era um redemoinho. Nonada a poeira inventava o povo. Osturdia eu vi um. Era uma beleza: impávido, colosso, pai gentil. Ele me viu. Olhos nos olhos. Existiu? Penso logo e me benzo três vezes. Mas se ergue do remoinho a clava forte eu incorporo todos os santos, todos os bichos, todas as antenas de tv. E o redemunho me invadiu e me rodou no horário da voz iluminado ao sol da nova cidade. Era um odeon que tocava gramofone: sambabom, sambaixada, sambhaía, sambatuque, sambrasília.

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