terça-feira, 16 de dezembro de 2008

BRASÍLIAMAR XXV

A biblioteca de Dulcina guarda papéis. A bibliotecária de Dulcina guarda personagens. O palco é dentro de nós. Eu invento cenas só pra disfarçar e grito no palco plano: eu sou Dioniso. Ninguém acredita. E saio fazendo mágicas pelos canteiros milimetricamente erigidos. As crianças. Os meninos jogam bola entre blocos e as meninas, desajeitadas com os bicos dos seios crescendo, andam de patins no eixo fechado. Domingo é dia de parque. Para ser feliz é preciso ter esse céu azul de Athosbulcão. E fazer desse azul uma imensidão e dos azulejos uma canção. Há um mundo bem melhor a ser feito por você é o mundo imenso que se faz todos os dias. E eu sinto uma falta daquela prosódia, daquela Medusa, daquela Molly Bloom do cerrado destilando terceiras intenções. Dulcina era tão linda de se admirar que andava nua por minha Brasília. E brinco com os filhos dela. Tão bacanas, tão cuidadosos, remexendo no seu baú reescritas e recordando o dia em que a mãe lhes ateou fogo. A biblioteca de Dulcina aguarda papéis. A bibliotecária sente sono, cochila na coxia, há uma gota de sangue cortando sua maquiagem. Ela sonha com o quinto ato.

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