segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

BRASÍLIAMAR XXIII (A Renato Cordeiro Gomes)

Eu moro em uma asa. Já morei em jardins, já dormi na rua, já fugi de campo de futebol. Mas habito uma asa e esta asa é uma norte. Um dia eu vou em uma festa no céu: vai ser uma festa. Resta agora saber desvendar diante dos olhos do dia-a-dia algum traço oculto de felicidade naquilo que ainda não conheço. Habitar as cidades-satélites para colher versos de abril, flores de julho, marcas de futuro. Quero penetrar cada satélite e fazer, girante e dançante como as notas de uma sanfona kalunga, o cosmos literário que persigo de minha janela. O satélite mais belo de Brasília é Bahia. Bahia de todos os povos: planejadamente casual. Da minha janela-norte sopra um vento que me liga a cada habitante das fronteiras retas. E esse vento sopra e volta a soprar e se estende entre pontos que minhas retinas pressentem e vejo desenhando-se rapidamente os mais belos poemas que colhi cada vez que deixei o plano e plantei meus pés em cidades que fazem parte da cidade e que se enformam como cidades capitais: Brasília, todas as Brasílias.